Conto - O velho da cabana
O velho da cabana
Autor: Beto Rocha
Um grupo de jovens participou de uma olimpíada de ciências. Foram os vencedores. Como prêmio ganharam um passeio, passariam um final de semana em uma reserva florestal que ficava no pequeno vilarejo de Campo Lindo, aproximadamente 320 km de distância, no extremo sul da Sibéria.
A professora Tereza, providenciou tudo o que precisava inclusive o ônibus. Marcou uma reunião na quinta-feira com os pais às três horas da tarde na escola. Explicou o roteiro da viagem, o intuito, normas, tarefas que os alunos deveriam cumprir, providenciar alimentos e agasalhos, horário da partida, saída prevista para as sete horas da manhã de sexta feira, tudo através de um folheto. Cinco pais desistiram de mandar seus filhos, por ser o lugar muito distante da cidade.
Logo amanhece. É então sexta feira, finalzinho de inverno, um lindo crepuscular se forma além da linha do horizonte, prometendo um grande dia de sol. Eles iriam então conhecer um lugar mágico, conferir in loco o que aprenderam na sala de aula. Uma espécie de aula prática, apesar de ser um passeio dentro da floresta, que com certeza contribuiria muito na formação do intelecto de cada um, traria ricos conhecimentos e mais respeito pela natureza.
Entraram no ônibus e partiram rumo à reserva florestal. Já dentro do ônibus os ‘’mais espertos’’ combinaram logo quem ficaria com quem até o final do passeio, sem o conhecimento da professora é claro.
Em um dos grupos ficou MELISSA que era mais conhecida como uma menina egoísta manipuladora, invejosa, cheia de maldades em seu coração. A mesma tinha um trauma de infância, por ter sido abandonada por seu pai, vivia elaborando planos diabólicos para prejudicar Safira. SAFIRA, que por sua vez era uma menina bonita, inteligente, prestativa e, principalmente temente a Deus, com isso, chamava a atenção dos meninos por causa da sua beleza inconfundível, por isso era alvo de invejas e perseguições. Que na sua saída para o passeio, recebera um bilhete de seu pai para que fosse entregue a Melissa só quando chegasse à reserva. SABRINA era ‘’amiga’’ de Melissa, só por interesse próprio, por isso contribuía para que a mesma praticasse suas maldades. Pois Melissa pagava seu lanche na hora do recreio e também uma sabia os segredos da outra. FERNANDO tinha ciúmes de GABRIEL com Safira, por quem era apaixonado, queria conquistá-la através da força e da violência, vivia tramando planos para afastar Safira de GABRIEL, que, na verdade eram só amigos. E finalmente, GABRIEL, que era como um anjo, todas as pessoas queriam estar perto dele, um rapaz intelectual, culto, carismático, estudioso, conselheiro, mas que todos acreditavam que Safira era apaixonada por ele, porque os dois eram vistos constantemente conversando.
As horas se passaram e finalmente chegaram à reserva. A professora Tereza entregou a autorização para o guarda florestal, depois o mesmo disse que iria ao pequeno vilarejo de Campo Lindo comprar mantimentos e logo voltaria. Final de tarde, só deu tempo montar as barracas próximas umas das outras, para que ninguém se perdesse. Logo escureceu e não dava tempo de fazer mais nada. Jantaram, acertaram tudo para o outro dia e foram dormir.
O sábado chega de uma forma mágica e encantadora, formando lindas paisagens, os alunos contemplando um alvorecer nunca visto por eles. Um presente de Deus para aquele lugar, suas montanhas e campinas cheias de cachoeiras que formavam os rios, passarinhos se alimentando no topo das árvores, cantando lindas melodias e tomando águas que ficavam nas folhas molhadas pelo orvalho da manhã que caia nos campos da reserva. Flores e rosas espalhadas por todo canto, suas pétalas caiam nas águas do riacho perfumando-as, parecia um quadro pintado por um artista num grande dia de inspiração.
A professora reúne os alunos e repassa as informações e pede que não se afastem muito os dos outros. Partiram em grupos de cinco, cada grupo foi para um lado diferente da floresta, mas sempre um pouco próximos, combinaram também um ponto de reencontro. Melissa e Sabrina se afastaram dos outros, cuidaram logo de botar seu plano em prática. Melissa combina com Sabrina e Fernando para tirar a atenção de Gabriel.
Enquanto os outros grupos aproveitavam e curtiam a reserva, Melissa chama Safira para irem pegar água no riacho, pois estava com muita sede. Safira muito prestativa concordou em ajudá-la, mas antes Safira entrega o bilhete a ela, o qual guarda no bolso da calça.
Melissa disse a Safira:
-Fica aí esperando que eu volte, não sai daí Hein. Safira senta-se no alto do barranco, ao lado do riacho, fica admirando toda aquela beleza na natureza. De repente Melissa chega por trás e empurra Safira barranco a baixo e corre para que ninguém a veja, nem a acuse de nada. Safira rola no chão bate a cabeça num pau e desmaia. Melissa volta correndo e passa pelos outros de seu grupo sem Safira. Gabriel sai a procura de sua melhor amiga e também desaparece.
O inesperado acontece, cai uma violenta tempestade, Safira torna com os pingos d’água tocando em seu rosto, levanta atordoada e sai a procura das barracas. Está chovendo muito e ela confunde a direção e perde-se em meio à imensa floresta.
Todos voltam para as barracas, menos Safira e Gabriel que foi procurá-la dentro da mata. A professora sente falta dos dois, pergunta aos alunos, que disseram, Safira está namorando com Gabriel. Afastaram-se por conta própria e se perderam. A professora Tereza resolveu interromper o passeio devido o ocorrido e volta a cidade para procurar ajuda. O guarda ainda não tinha voltado devido à tempestade. O motorista dá a partida e vai estrada a fora. A pista estava molhada e escorregadia, em uma curva aparece no meio da pista uma árvore caída, ele tenta frear, escorrega e capotam várias vezes, caindo num precipício.
Algum tempo depois o guarda florestal passa no local vindo do vilarejo e aciona o corpo de bombeiros. Demoram muito, quando chegam descem o penhasco através de cordas, resgatam todos os corpos, só uma pessoa está aparentemente viva.
Já no hospital ligaram para todas as famílias. Identificaram o nome da única sobrevivente. Seu nome é Melissa. Os médicos disseram a sua mãe, que infelizmente ela iria ficar de cadeira de rodas para o resto de sua vida, porém Melissa ainda não sabia de nada.
Enquanto isso Safira continuava perdida na reserva. Adormeceu num pé de árvore, durante a noite inteira com frio, sede fome e falta de ar causado por uma pneumonia aguda devido passar a noite inteira molhada, porque a mesma sofria com problema de asma. Já era então domingo, cedo da manhã, a menina torna pelos cânticos dos passarinhos, depois houve um segundo barulho de alguém que, supostamente partia lenha. Sai cambaleando, avista uma cabana e na frente um velho de barbas e cabelos brancos como a neve, com seus olhos cor de mel, que apesar de seus cabelos serem brancos, tinha a aparência de um jovem de pouco mais de trinta anos, levando lenha para dentro, pois fazia muito frio naquela região. Safira corre, cai e desmaia mais uma vez, próximo ao monte de lenha. O homem pega ela nos braços e a leva para dentro. Substitui suas roupas molhadas, coloca-a próximo a lareira para aquecê-la, depois lhe dá uma sopa quente com um pedaço de pão, cuida de seus ferimentos com ervas naturais. Depois disso a menina dorme o restante da manhã de domingo, acorda totalmente curada.
Então Melissa lembra-se do bilhete que Safira lhe dera lá na reserva. Depois de alguns instantes, Melissa pede a mãe sua calça comprida que estava em um armário do apartamento do hospital, ainda suja de barro e sangue. Pega o bilhete, diz para sua mãe que gostaria de ficar um pouco só. Lê e o que está escrito: Melissa me perdoe, mas não dá mais para esconder. Estou com uma doença grave e posso morrer a qualquer momento. Gostaria de dizer que Safira é sua irmã. Peço que me perdoe. Beijo de seu pai. Chorando muito e nervosa, chama sua mãe e pergunta, a mesma confirma tudo.
-Mãe acho que eu fiz uma besteira, e conta tudo para sua mãe o que fez com Safira. Arrependida chora amargamente e fala:
-Mãe se a Safira sobreviver irei pedir perdão a ela.
Longe dali Safira se recupera na cabana, por sua vez o velho pergunta se ela quer que ele vá deixa ela em sua casa, a mesma responde que sim, mas como?
-Eu sei de uma estrada de barro que diminui muito o percurso. Diz o velho.
Em seguida escuta a voz de Gabriel, que é ajudado, também pelo o velho da cabana, abraça a amiga Safira, alimenta-se. Enquanto isso o velho vai pegar o cavalo, o qual é chamado pelo seu dono de Apocalipse. Montam no cavalo e partem rumo à cidade. Chegando próximo a Sibéria, pára o cavalo, descem e o velho dá a Safira uma pequena lembrança. Eles dão um abraço demorado, cheio de ternura naquele homem, que os ajudaram muito sem os conhecerem, agradecem por tudo e partem rumo as suas casas.
Logo em seguida Safira resolve abrir o presente. Ela fica surpresa: é um rolo de pergaminho com uma mensagem que diz: ...E EIS QUE ESTOU CONVOSCO TODOS OS DIAS, ATÉ A CONSUMAÇÃO DOS SÉCULOS. AMÉM. (Mt 28;20b). Logo em seguida olhou para trás, aquele velho homem tinha desaparecido.
Alguns dias se passaram...
Mesmo sendo distantes, muitos sendo contra, sua mãe resolve ir até aquela reserva florestal para agradecer aquele bom homem por toda ajuda que prestou a Safira, que amou e cuidou como se fosse sua própria filha. Chegando lá, pede o guarda florestal para ir até a cabana, queria agradecer pessoalmente aquele homem. Quando o guarda diz:
-Senhora eu trabalho aqui na reserva a mais de vinte anos, garanto a vocês que essa cabana não existe, mas para tirar suas dúvidas, as levarei até o lugar indicado pela sua filha. Chegando lá, não existia absolutamente nada, a não ser o riacho e a imensa floresta. Quando se lembrou da mensagem escrita que recebera do velho da cabana. Só então Safira se deu conta que tinha passado um dia ao lado do próprio SENHOR JESUS CRISTO.